A Experiência nº 3 de Flávio de Carvalho. A saia e a blusa libertaria o homem moderno do calor.
Um livro que li recentemente e
que gostei bastante é uma obra do artista Flávio de Carvalho (1899 – 1973),
intitulado de ‘A Moda e o Novo Homem’(Editora
Azougue). Mas, quem foi Flávio de Carvalho e o que ele contribuiu para a moda
masculina nesses últimos tempos? Flávio de Carvalho era um homem totalmente
ligado a arte. Em suas experiências chegou a trabalhar com arquitetura,
cenografia, artes plásticas, literatura, performance, música e basicamente tudo que estivesse a seu
alcance e que dizia respeito a arte.
Seu comportamento era o mais
exibido possível, era desbocado, inquieto e gostava de “chocar” a população
alheia com seus pensamentos e estilo de vida diferente. Por isso foi
trabalhando com alguns experimentos que tinha por finalidade chamar a atenção
das pessoas e ver qual o tipo de ração aquilo causaria na sociedade. E foi em
meio a esses experimentos, em 1956, quando ele possuía uma coluna no Diário de
São Paulo, com o mesmo nome que veio a ganhar seu livro mais tarde ‘A Moda e o
Novo Homem’, que Flávio lança sua Experiência nº 3. Vale relatar que nessa
coluna o artista escrevia e defendia associações no mínimo interessantes que
falava não apenas da moda, propriamente dita, mas também de sua relação com a
evolução humana. Isento de embasamentos
teóricos, ele tece suas idéias a respeito do uso dos chapéus, jóias, calças
compridas, a cauda dos vestidos femininos e até mesmo o uso do colarinho.
Quanto ao uso do chapéu (que
inclusive foi este que inspirou seu Experimento nº 2) ele o trata como um “ladrão
de almas”, à cauda dos vestidos diz respeito a um símbolo do pudor, às
pulseiras e colares seriam influências ou reminiscência das correntes dos
escravos, enquanto os colarinhos altos que começaram a ser usados pouco antes
da Revolução Francesa teriam como influência os castigos na guilhotina.
Pois bem, Flávio foi pedido pelo
jornal para desenhar e falar de uma nova indumentária para atender ao Homem daquela
época. Para isso, Flávio não bastou apenas à apresentação de um croqui, pois
Flávio resolveu sair pelas ruas da grande São Paulo apresentando sua nova
vestimenta, feita para atender ao clima topical do Brasil, pois era assim que
ele via o atual homem naquela época, como alguém que sentia calor,
principalmente por estarem sempre usando ternos, mesmo em um clima bastante
quente.
Desenho de Flávio de Carvalho para a roupa "New Look".
Era uma sociedade totalmente conservadora,
a qual alguns estereótipos já haviam culminado na cabeça de muitas pessoas. A
vestimenta ganhou o nome de “New Look”
e era composta por meias rendadas de bailarina, saiote, blusa de nylon com
aberturas laterais, e foi assim que o artista saiu desfilando pelas ruas e
chocando toda uma sociedade de homens e mulheres. Flávio de Carvalho foi um
personagem excêntrico, talvez o mais excêntrico que eu já li a respeito na
história em que relaciona Homem X Moda no Brasil. Mesmo recebendo o apelido de “divino
louco” e mesmo não tendo o total reconhecimento que deveria ter, acredito que
essa iniciativa de sair pelas ruas desafiando toda uma sociedade conservadora
foi um grande passo para a mentalidade mais avançada que possui as pessoas
hoje.
1 comentários:
Embora a elegância e demais elementos da peça sejam questionáveis, o autor em questão é sem dúvida alguém que não se privou de imaginação e enfrentou desafios. Procurarei a respeito. :)
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